sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A espada mágica (Texto de Autor Desconhecido)



Existe uma história muito, muito antiga, do tempo dos cavaleiros em brilhantes armaduras, sobre um jovem comum que estava com muito medo de testar sua habilidade com as armas, no torneio local.

Certo dia, seus amigos quiseram pregar-lhe uma peça e lhe deram de presente uma espada, dizendo que tinha um poder mágico muito antigo. O homem que a empunhasse jamais seria derrotado em combate.

Para surpresa deles, o jovem correu para o torneio e pôs em uso o presente, ganhando todos os combates. Ninguém jamais vira tanta velocidade e ousadia na espada.
A cada torneio, a notícia de sua maestria se espalhava, e não tardou a ser ovacionado como o primeiro cavaleiro do reino.

Por fim, achando que não faria mal nenhum, um dos seus amigos revelou a brincadeira, confessando que o instrumento não tinha nada de mágico, era só uma espada comum.
Imediatamente o jovem cavaleiro foi dominado pelo terror.

De pé na extremidade da área de combate, as pernas tremeram, a respiração ficou presa na garganta e os dedos perderam a força. Incapaz de continuar acreditando na espada, ele já não acreditava mais em si mesmo.

E nunca mais competiu.

Reflexão:
Será que precisamos de "Mágica" em nossa vida ou temos consciência de nosso valor e de nosso potencial?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A escola dos bichos (Texto de Autor Desconhecido)



Conta-se que vários bichos decidiram fundar uma escola. Para isso reuniram-se e começaram a escolher as disciplinas. O Pássaro insistiu para que houvesse aulas de vôo. O Esquilo achou que a subida perpendicular em árvores era fundamental. E o Coelho queria de qualquer jeito que a corrida fosse incluída. E assim foi feito, incluíram tudo, mas... cometeram um grande erro. Insistiram para que todos os bichos praticassem todos os cursos oferecidos. O Coelho foi magnífico na corrida, ninguém corria como ele.

Mas queriam ensiná-lo a voar. Colocaram-no numa árvore e disseram: "Voa,Coelho". Ele saltou lá de cima e "pluft"... coitadinho! Quebrou as pernas. O Coelho não aprendeu a voar e acabou sem poder correr também. O Pássaro voava como nenhum outro, mas o obrigaram a cavar buracos como uma topeira. Quebrou o bico e as asas, e depois não conseguia voar tão bem, e nem mais cavar buracos.

SABE DE UMA COISA?
Todos nós somos diferentes uns dos outros e cada um tem uma ou mais qualidades próprias. Não podemos exigir ou forçar para que as outras pessoas sejam parecidas conosco ou tenham nossas qualidades. Se assim agirmos, acabaremos fazendo com que elas sofram, e no final, elas poderão não ser o que queríamos que fossem e ainda pior, elas poderão não mais fazer o que faziam bem-feito.

RESPEITAR AS DIFERENÇAS É AMAR AS PESSOAS COMO ELAS SÃO!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Estrela perigosa (Clarice Lispector)


Estrela perigosa
Rosto ao vento 
Marulho e silêncio 
leve porcelana 
templo submerso trigo e vinho
tristeza de coisa vivida 
árvores já floresceram 
o sal trazido pelo vento 
conhecimento por encantação 
esqueleto de idéias 
ora pro nobis 
Decompor a luz 
mistério de estrelas 
paixão pela exatidão 
caça aos vagalumes. 
Vagalume é como orvalho 
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir 
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é. 

No obscuro erotismo de vida cheia 
nodosas raízes. 
Missa negra, feiticeiros. 
Na proximidade de fontes, 
lagos e cachoeiras 
braços e pernas e olhos, 
todos mortos se misturam e clamam por vida. 
Sinto a falta dele 
como se me faltasse um dente na frente: 
excrucitante. 
Que medo alegre, 
o de te esperar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A escola da vida (Texto de Autor Desconhecido)



Um erudito atravessava de barco um rio e, conversando com o barqueiro, perguntou:
- Diga-me uma coisa: você sabe botânica?

O barqueiro olhou para o erudito e respondeu:
- Não muito, senhor. Não sei que história é essa...

- Você não sabe botânica, a ciência que estuda as plantas? Que pena! Você perdeu parte de sua vida !

O barqueiro continua remando. Pergunta novamente o erudito:
- Diga-me uma coisa: você sabe astronomia ?

O coitado do caiçara barqueiro, analfabeto, balançou a cabeça e disse :
- Não senhor, não sei o que é astronomia.

- Astronomia é a ciência que estuda os astros, o espaço, as estrelas. Que pena ! Você perdeu parte da sua vida.

E assim foi perguntando a respeito de cada ciência: astrologia, física, química, e de nada o barqueiro sabia. E o erudito sempre terminava com seu refrão : "Que pena! Você perdeu parte da sua vida...".

De repente, o barco bateu contra uma pedra, rompeu-se e começou a afundar...

E o barqueiro perguntou ao erudito:
- O senhor sabe nadar ?

- Não, não sei.

- Que pena, o senhor perdeu toda a sua vida !

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A divindade dos homens (Robert B. Dilts)



Houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino. Resolveu então escondê-lo em um lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-lo. O grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou um conselho dos deuses menores, para juntos resolverem o problema.

- Enterremos a divindade do homem na terra, foi a primeira ideia dos deuses.

- Não, isso não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la.

Então os deuses retrucaram:
- Joguemos a divindade no fundo dos oceanos.

Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem, um dia iria explorar as profundezas dos mares e a recuperaria. Então os deuses concluíram:
- Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia.

Brahma então se pronunciou:

- Eis o que vamos fazer com a divindade do homem: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois será o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la.
Desde esse tempo, conclui a lenda, o homem deu a volta na terra, explorou escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo que se encontra nele mesmo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A corrida dos sapos (Texto de Autor Desconhecido)



Era uma vez uma corrida de sapinhos.

Começou a competição. Mas como a multidão não acreditava que os sapinhos pudessem alcançar o alto daquela torre, o que mais se ouvia era: 

"Que pena !!!

Esses sapinhos não vão conseguir.

Não vão conseguir."

E os sapinhos começaram a desistir. Mas havia um que persistia e continuava a subida, em busca do topo.

A multidão continuava gritando : "Pena!!! Vocês não vão conseguir." E os sapinhos estavam mesmo desistindo um por um, menos aquele sapinho que continuava tranqüilo, embora arfante.

Ao final da competição, todos desistiram, menos ele. A curiosidade tomou conta de todos. Queriam saber o que tinha acontecido.

E assim, quando foram perguntar ao sapinho como ele havia conseguido concluir a prova, descobriram que ele era surdo.

Não permita que pessoas com o péssimo hábito de serem negativas, derrubem as melhores e mais sábias esperanças de seu coração.

Lembre-se sempre:
Há poder em nossas palavras e em tudo o que pensamos.

domingo, 28 de outubro de 2012

A coragem de enfrentar seus medos (Texto de Autor Desconhecido)



Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.
Um mágico teve pena dele e o transformou em gato. Mas aí ele ficou com medo de cão, por isso o mágico o transformou em pantera.

Então ele começou a temer os caçadores.

A essa altura o mágico desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:
-- Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo. É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, é sim a capacidade de avançar, apesar do medo; caminhar para frente; e enfrentar as adversidades, vencendo os medos... É isto que devemos fazer. Não podemos nos derrotar, nos entregar por causa dos medos.

Assim, jamais chegaremos aos lugares que tanto almejamos em nossas vidas...

sábado, 27 de outubro de 2012

A construção do navio (Texto de Autor Desconhecido)



A construção de um navio parece com a formação das pessoas. Durante a gestação o casco é construído, até que somos lançados ao mar. A maior parte de um navio é colocada depois, como acontece com a gente.

Camarotes, porões, motores, pinturas, enfeites são acrescentados durante a infância e adolescência, até o navio ficar pronto para a primeira viagem. Um navio fica pronto quando sai do estaleiro, mas com a gente é diferente - e este é o desafio de cada um, pois crescemos todo dia e nunca ficamos prontos.

Apesar disso é preciso partir.... Mas nem todos têm a coragem de ir e continuam atracados ao cais, julgando-se incapazes de navegar sozinhos. Algumas pessoas são obrigadas a zarpar, já que os encargos de segurança do porto tornam-se pesados demais e, às vezes, perdem um tempo precioso da viagem revoltadas e lamentando-se por tudo isso.... mas nem todo mundo é assim....

Alguns mal o dia amanhece, já partiram. Parecem muito ocupados e logo somem no horizonte. Desde cedo sabem o que querem e têm pressa de viver. Outros navios também saem logo que podem, mas ficam dando voltas e mais voltas sem chegar a lugar algum. Acabam navegando só para comprar mais combustível todo dia, e o que ganham mal dá para a reforma do casco...

Os maiores desperdiçadores de seus próprios recursos são aqueles que não sabem o que querem... e o pior é que, quando a gente não sabe direito o que espera do rumo que está tomando ou nem se tem um rumo, não pode corrigir a rota se estiver no caminho errado... nós somos os maiores responsáveis pelas tempestades que não conseguimos evitar.

Já outras pessoas deixam de navegar milhares de milhas para se conformarem com umas poucas centenas, porque tem medo de atrair ventos contrários ou então querem agradar ou impressionar alguém.... a gente não deve aceitar isso, pois significa concordar em ser menos do que pode ser. Todo dia é dia de evolução e aprendizado e, como a lua cheia, quando paramos de crescer, começamos a diminuir.

Então a primeira coisa a fazer é tornar-se comandante de si próprio e isso equivale a pensar com a própria cabeça, ser timão e timoneiro, assumindo riscos pelos erros, pois só erram os que tem a coragem para ousar e, se caírem, levantar e tentar de novo-sempre... pois ninguém sabe nossa autonomia no mar, nossa capacidade de carga, ou a que velocidade podemos singrar as águas dos oceanos, sejam azuis ou escuras.

Ninguém nos conhece melhor que nos mesmos e, por mais que digam o que temos - ou não temos - que fazer, ninguém pode viver a vida no nosso lugar. Outras pessoas, ainda, vivem frustradas e infelizes porque não conseguem ter as mesmas coisas que viram em outro navio. Algumas também vivem furiosas quando alguma coisa ou alguém não age ou sai como gostariam. O amor a si próprio e ao próximo é um exercício diário para saber a diferença entre o que precisa ser mudado e o que devemos aceitar como é.

Muita gente tem preferido impor suas idéias e opiniões em vez de escutar o outro; ficar revoltada com o mundo, em vez de admirar a vida, pois não sabem o que é amar. E tem viajantes que pensam no amor como algo a ser obtido, como se fosse um objeto e não como uma arte que precisa ser aprendida. Alguns acabam confundindo o amor, Deus ou a felicidade com o significado de suas rotas, e vivem frustradas navegando atrás do que não conseguem alcançar - e até desistem no meio do caminho, desalentados, achando que a vida não vale a pena, que Deus não existe e felicidade e amor são balelas... mas Deus, felicidade, amor, bondade não são lugares ou coisas que possam ser possuídos.

A primeira coisa a fazer para quem quer encontrar estes bens é não procurar! Quando procuramos o que não é um lugar ou objeto, e que muito menos está escondido, quem fica perdido somos nós mesmos. Mas quando não procuramos, porque não pode ser encontrado fora de nós, descobrimos que o que tanto queremos - Deus, felicidade, paz - habita camarotes no coração do nosso próprio navio... e tem pessoas tão preocupadas em procurar do lado de fora que até se esquecem de olhar por dentro!...

Não existe navio que não tem passado por tempestades e muitos afundam por não saberem evitá-las, por falta de comunicação ou por acharem que não precisam dos outros. Somos fortes quando unidos. Juntos somos tão grandes e poderosos quanto a onda mais forte e ameaçadora. Perdoar as falhas e limitações de nossos semelhantes é muito mais que amor ou virtude - é questão de inteligência e sobrevivência... pois a única coisa que possuímos de verdade é a necessidade do outro.

Mas não existe tempestades que durem para sempre, assim como os dias de sol também não são permanentes. Dor e frustrações muitas vezes são resultado de querermos perpetuar momentos de prazer, bem-estar, alegria, que por si só são efêmeros e com que facilidade esquecemos que nada é eterno - a não ser o próprio movimento - e que, por isso, momentos de alegria se alternam com momentos de tristeza, dor se alterna com prazer, fome com saciedade, doença com saúde - um sempre dando lugar ao outro.

Quando a gente pára de tentar lutar contra isso e se abandona nesse jogo delicioso da vida, descobrimos que, acima de tudo, a vida vale a pena ser vivida intensamente.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A cobra e o vaga-lume (Texto de Autor Desconhecido)


Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vaga-lume que só vivia para brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...

No terceiro dia, já sem forças o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas ?
- Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar...

- Pertenço a sua cadeia alimentar ?
- Não.
- Te fiz alguma coisa ?
- Não.
- Então por que você quer me comer ?

- PORQUE NÃO SUPORTO VER VOCÊ BRILHAR...

Pensem nisso e selecione as pessoas em quem confiar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A cerca (Texto de Autor Desconhecido)



Era uma vez um menino com temperamento muito forte. Seu pai deu-lhe um saco de pregos, dizendo-lhe que cada vez que ele ficasse furioso (bravo) pregasse um prego na cerca do fundo da casa.

No primeiro dia o garoto pregou 37 pregos, mas gradualmente ele foi se acalmando. Descobriu que era mais fácil "segurar" seu temperamento do que pregar os pregos na cerca.

Finalmente chegou o dia em que o garoto não se enfureceu nenhuma vez. Contou ao pai o que havia sucedido e pai sugeriu-lhe que, de agora em diante por cada dia que conseguisse segurar seu temperamento retirasse um dos 37 pregos.

Passou-se o tempo e o garoto finalmente pode dizer ao pai que tinha retirado todos os pregos.

O pai tomou o filho pela mão e levou-o até a cerca dizendo-lhe:
- Você fez muito bem meu filho, mas a cerca nunca mais será a mesma. Quando você diz coisas quando está furioso, elas deixam uma cicatriz assim como as marcas da cerca. Você pode fincar e retirar uma faca em um homem.

Não importa quantas vezes você possa dizer; "desculpe", a ferida mesmo assim permanecerá. Uma ferida verbal é tão ruim (maligna) quanto uma ferida física. Amigos são uma jóia muito rara. Eles fazem você sorrir e estimulam você a ter sucesso. Eles emprestam um ouvido amigo, repartem uma palavra de elogio, eles querem sempre abrir seus corações para nós."

Mostre a seus amigos o quanto você se importa com eles.

Envie esta história a todos que você considerar um Amigo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A carpa (Texto de Autor Desconhecido)



A carpa japonesa (koi) tem a capacidade natural de crescer de acordo com o tamanho do seu ambiente. Assim, num pequeno tanque, ela geralmente não passa de cinco ou sete centímetros -- mas pode atingir três vezes esse tamanho, se colocada num lago.

Da mesma maneira, as pessoas têm a tendência de crescer de acordo com o ambiente que as cerca. Só que, neste caso, não estamos falando de características físicas, mas de desenvolvimento emocional, espiritual e intelectual.

Enquanto a carpa é obrigada, para seu próprio bem, a aceitar os limites do seu mundo, nós estamos livres para estabelecer as fronteiras de nossos sonhos. Se somos um peixe maior do que o tanque em que fomos criados, em vez de nos adaptarmos a ele, devíamos buscar o oceano -- mesmo que a adaptação inicial seja desconfortável e dolorosa.

Pense nisto. Existe um oceano esperando por você.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A caixinha (Texto de Autor Desconhecido)



Há um tempo atrás, um homem castigou sua filhinha de 3 anos por desperdiçar um rolo de papel de presente dourado. O dinheiro andava escasso naqueles dias, razão pela qual o homem ficou furioso ao ver a menina envolvendo uma caixinha com aquele papel dourado e colocá-la debaixo da árvore de Natal.

Apesar de tudo, na manhã seguinte, a menininha levou o presente ao seu pai e disse:
- Isto é para você, paizinho!

Ele sentiu-se envergonhado da sua furiosa reação, mas voltou a "explodir" quando viu que a caixa estava vazia. Gritou, dizendo:
- Você não sabe que quando se dá um presente a alguém, a gente coloca alguma coisa dentro da caixa?

A pequena menina olhou para cima, com lágrimas nos olhos, e disse:
- Oh, Paizinho, não está vazia. Eu soprei beijos dentro da caixinha. Todos para você...

O pai quase morreu de vergonha, abraçou a menina e suplicou que ela o perdoasse. Dizem que o homem guardou a caixa dourada ao lado de sua cama por anos e sempre que se sentia triste, chateado, deprimido, ele tomava da caixa um beijo imaginário e recordava o amor que sua filha havia posto ali...

De uma forma simples, mas sensível, cada um de nós humanos temos recebido uma caixinha dourada, cheia de amor incondicional e beijos de nossos pais, filhos, irmãos e amigos...

Ninguém poderá ter uma propriedade ou posse mais bonita e importante que esta.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A cabra e o asno (Esopo)



Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse:

- Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te dêem umas férias.

Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.

Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno.

Moral da Estória:
Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador.

domingo, 21 de outubro de 2012

A borboleta e a flor



Certa vez, um homem pediu a Deus uma flor e uma borboleta.
Mas Deus lhe deu um cacto e uma lagarta.

O homem ficou triste, pois não entendeu por que o seu pedido veio errado.
Daí pensou:

Também, com tanta gente para atender...

E resolveu não questionar.

Passado algum tempo, o homem foi verificar o pedido que deixou esquecido.
Para sua surpresa, do espinhoso e feio cacto havia nascido a mais bela das flores...
E a horrível lagarta transformara-se em uma belíssima borboleta.
Deus sempre age certo.

O seu caminho é o melhor, mesmo que aos nossos olhos pareça estar dando tudo errado.
Se você pediu uma coisa a Deus e recebeu outra, confie.

Tenha certeza de que Ele dá o que você precisa, no momento certo.
Nem sempre o que você deseja é o que você precisa.

Como Ele nunca erra na entrega dos pedidos, siga em frente sem murmurar ou duvidar.
O espinho de hoje será a flor de amanhã!


Extraído do livro “A vida por linhas certas” de Legrand 

sábado, 20 de outubro de 2012

A bomba d´água (Texto de Autor Desconhecido)



Contam que um certo homem estava perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Foi quando ele chegou a uma casinha velha - uma cabana desmoronando - sem janelas, sem teto, batida pelo tempo. O homem perambulou por ali e encontrou uma pequena sombra onde se acomodou, fugindo do calor do sol desértico.

Olhando ao redor, viu uma bomba a alguns metros de distância, bem velha e enferrujada. Ele se arrastou até ali, agarrou a manivela, e começou a bombear sem parar. Nada aconteceu. Desapontado, caiu prostado para trás e notou que ao lado da bomba havia uma garrafa. Olhou-a, limpou-a, removendo a sujeira e o pó, e leu o seguinte recado: "Você precisa primeiro preparar a bomba com toda a água desta garrafa, meu amigo.
PS.: Faça o favor de encher a garrafa outra vez antes de partir."

O homem arrancou a rolha da garrafa e, de fato, lá estava a água. A garrafa estava quase cheia de água! De repente, ele se viu em um dilema:

Se bebesse aquela água poderia sobreviver, mas se despejasse toda a água na velha bomba enferrujada, talvez obtivesse água fresca, bem fria, lá no fundo do poço, toda a água que quisesse e poderia deixar a garrafa cheia para a próxima pessoa... mas talvez isso não desse certo.

Que deveria fazer? Despejar a água na velha bomba e esperar a água fresca e fria ou beber a água velha e salvar sua vida? Deveria perder toda a água que tinha na esperança daquelas instruções pouco confiáveis, escritas não se sabia quando?

Com relutância, o homem despejou toda a água na bomba. Em seguida, agarrou a manivela e começou a bombear... e a bomba começou a chiar. E nada aconteceu!

E a bomba foi rangendo e chiando. Então surgiu um fiozinho de água; depois um pequeno fluxo, e finalmente a água jorrou com abundância! A bomba velha e enferrujada fez jorrar muita, mas muita água fresca e cristalina. Ele encheu a garrafa e bebeu dela até se fartar. Encheu-a outra vez para o próximo que por ali poderia passar, arrolhou-a e acrescentou uma pequena nota ao bilhete preso nela: "Creia-me, funciona! Você precisa dar toda a água antes de poder obtê-la de volta!"

Reflexão:
Podemos aprender coisas importantes a partir dessa breve estória:
1. Nenhum esforço que você faça será válido, se ele for feito da forma errada.
Você pode passar sua vida toda tentando bombear algo quando alguém já tem reservado a solução para você.Preste atenção a sua volta!

2. Saiba olhar adiante e compartilhar!
Aquele homem poderia ter se fartado e ter se esquecido de que outras pessoas que precisassem da água pudessem passar por ali. Ele não se esqueceu de encher a garrafa e ainda por cima soube dar uma palavra de incentivo.

Se preocupe com quem está próximo de você, lembre-se:

Você só poderá obter água se a der antes. Cultive seus relacionamentos, dê o melhor de si!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A atitude de um vencedor (Texto de Autor Desconhecido)


Numa determinada floresta havia 3 leões. Um dia o macaco, representante eleito dos animais súditos, fez uma reunião com toda a bicharada da floresta e disse:
- Nós, os animais, sabemos que o leão é o rei dos animais, mas há uma dúvida no ar: existem 3 leões fortes. Ora, a qual deles nós devemos prestar homenagem? Quem, dentre eles, deverá ser o nosso rei?

Os 3 leões souberam da reunião e comentaram entre si:
- É verdade, a preocupação da bicharada faz sentido, uma floresta não pode ter 3 reis, precisamos saber qual de nós será o escolhido. Mas como descobrir ?

Essa era a grande questão: lutar entre si eles não queriam, pois eram muito amigos. O impasse estava formado. De novo, todos os animais se reuniram para discutir uma solução para o caso. Depois de muito tempo eles tiveram uma idéia excelente.

O macaco se encontrou com os 3 felinos e contou o que eles decidiram:
- Bem, senhores leões, encontramos uma solução desafiadora para o problema. A solução está na Montanha Difícil.

- Montanha Difícil ? Como assim ?

- É simples, ponderou o macaco. Decidimos que vocês 3 deverão escalar a Montanha Difícil. O que atingir o pico primeiro será consagrado o rei dos reis.

A Montanha Difícil era a mais alta entre todas naquela imensa floresta. O desafio foi aceito. No dia combinado, milhares de animais cercaram a Montanha para assistir a grande escalada.

O primeiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O segundo tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O terceiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.

Os animais estavam curiosos e impacientes, afinal, qual deles seria o rei, uma vez que os 3 foram derrotados ? Foi nesse momento que uma águia sábia, idosa na idade e grande em sabedoria, pediu a palavra:
- Eu sei quem deve ser o rei. Todos os animais fizeram um silêncio de grande expectativa.

Todos gritaram para a Águia:
- A senhora sabe, mas como sabe?

- É simples... eu estava voando entre eles, bem de perto e, quando eles voltaram fracassados para o vale, eu escutei o que cada um deles disse para a montanha.
O primeiro leão disse:
- Montanha, você me venceu!

O segundo leão disse:
- Montanha, você me venceu!

O terceiro leão também disse que foi vencido, mas, com uma diferença. Ele olhou para sua dificuldade e disse:
- Montanha, você me venceu, por enquanto! mas você, montanha, já atingiu seu tamanho final, e eu ainda estou crescendo.
E calmamente a águia completou:
- A diferença é que o terceiro leão teve uma atitude de vencedor diante da derrota e quem pensa assim é maior que seu problema: é rei de si mesmo, está preparado para ser rei dos outros!

Os animais da floresta aplaudiram entusiasticamente ao terceiro leão que foi coroado rei entre os reis.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A arte de resolver conflitos (Terry Dob)



O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa modorrenta tarde de primavera.

Um dos vagões estava quase vazio: apenas algumas mulheres e idosos e um jovem lutador de Aikidô.

O jovem olhava, distraído, pela janela, a monotonia das casas sempre iguais e dos arbustos cobertos de poeira.

Chegando a uma estação as portas se abriram e, de repente, a quietude foi rompida por um homem que entrou cambaleando, gritando com violência palavras sem nexo.
Era um homem forte, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo.

Aos berros, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê.

O operário furioso agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arranca-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava.

O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo e o jovem se levantou.
O lutador estava em excelente forma física. Treinava oito horas todos os dias, há quase três anos.

Gostava de lutar e se considerava bom de briga. O problema é que suas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Os alunos são proibidos de lutar, pois sabem que Aikidô "é a arte da reconciliação.

Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o universo.
Por isso o jovem sempre evitava envolver-se em brigas, mas no fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade legítima em que pudesse salvar os inocentes, destruindo os culpados.

Chegou o dia! Pensou consigo mesmo. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo.

O jovem se levantou e o bêbado percebeu a chance de canalizar sua ira.
Ah! Rugiu ele. Um valentão! Você está precisando de uma lição de boas maneiras!
O jovem lançou-lhe um olhar de desprezo.

Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele o agredisse primeiro, por isso o provocou de forma insolente.

Agora chega! Gritou o bêbado. Você vai levar uma lição. E se preparou para atacar.
Mas, antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um grito: Hei!
O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos.

Aquele minúsculo senhor vestia um quimono impecável e devia ter mais de setenta anos...

Não deu a menor atenção ao jovem, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importante segredo para lhe contar.

Venha aqui disse o velhinho, num tom coloquial e amistoso. Venha conversar comigo insistiu, chamando-o com um aceno de mão.

O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza: por que diabos vou conversar com você?

O velhinho continuou sorrindo. O que você andou bebendo? Perguntou, com olhar interessado.

Saquê rosnou de volta o operário e não é da sua conta!

Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das noites que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro.

Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro, comentou o velho mestre.

Pouco a pouco o operário foi relaxando e disse: é, é bom. Eu também gosto de caqui...
São deliciosos concordou o velho, sorrindo. E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.

Não, falou o operário. Minha esposa morreu.

Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.
Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto. E o jovem estava lá, com toda sua inocência juvenil, com toda a sua vontade de tornar o mundo melhor para se viver, sentindo-se, de repente, o pior dos homens.

O trem chegou à estação e o jovem desceu. Voltou-se para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco e deitara a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.

Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando... O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas. E aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Águia e a Coreixa (Esopo)



A Águia tomou nas unhas um Cágado para cevar-se, e trazendo-o pelo ar, e dando-lhe picadas, não podia matá-lo, porque estava mui recolhido em sua concha. Embravecia-se muito com isso a Águia, sem lhe prestar, quando chega a Coreixa, e diz:

- A caça que tomastes é em extremo boa, mas não podereis gozar dela senão por manha.

Disse a Águia que lhe ensinasse a manha e partiria com ela da caça. A Coreixa o fez dizendo:

- Subi-vos sobre as nuvens, e de lá deixai cair o Cágado sobre alguma laje, quebrará a concha e ficar-nos-á a carne descoberta.

A Águia assim o fez; sucedendo como queriam, comeram ambas da caça.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A casa queimada (Texto de Autor Desconhecido)



Um certo homem saiu em uma viagem de avião.

Era um homem temente a Deus, e sabia que Deus o protegeria.

Durante a viagem, quando sobrevoavam o mar, um dos motores falhou e o piloto teve que fazer um pouso forçado no oceano.

Quase todos morreram, mas o homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservou em cima da água.

Ficou boiando à deriva, durante muito tempo, até que chegou a uma ilha não habitada.

Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por tê-lo salvo da morte.

Ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas.

Conseguiu derrubar algumas árvores e com muito esforço conseguiu construir uma casa para ele.

Não era bem uma casa, mas um abrigo tosco, com paus e folhas. Porém significava proteção.

Ele ficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia dormir sem medo dos animais selvagens que talvez pudessem existir na ilha.

Um dia ele estava pescando e, quando terminou, havia apanhado muitos peixes. Assim, com comida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca. Porém, ao voltar-se na direção de sua casa, qual não foi sua
decepção ao vê-la toda incendiada. Ele se sentou em uma pedra, chorando e dizendo em prantos:

"Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? O Senhor sabe que eu preciso muito desta casa para poder me abrigar, e o Senhor deixou minha casa se queimar todinha. Deus, o Senhor não tem pena de
mim?"

Neste momento uma mão pousou no seu ombro e ele ouviu uma voz dizendo:
"Vamos, rapaz?"

Ele se virou para ver quem lhe falava, e qual não foi sua
surpresa quando viu à sua frente um marinheiro todo fardado e dizendo:

"Vamos rapaz, nós viemos buscá-lo".
"Mas como é possível? Como vocês souberam que eu estava aqui?"
"Ora, amigo! Vimos os seus sinais de fumaça pedindo socorro. O capitão ordenou que o navio parasse e me mandou vir buscá-lo naquele barco ali
adiante."

Os dois entraram no barco e assim o homem foi para o navio que o levaria em segurança de volta para os seus entes queridos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O ladrão e o cão de guarda (Esopo)



Um ladrão foi à noite para assaltar uma casa. Ele levou consigo vários pedaços de carne, para que pudesse acalmar o cão de guarda, para que não chamasse a atenção do seu dono latindo.

Assim que o ladrão jogou-lhe os pedaços de carne, o cachorro disse:

- Se você estava pensando em fechar minha boca, cometeu um grande erro. Esta repentina gentileza, vinda de suas mãos, apenas me deixaram mais atento. Por trás desses inesperados favores, você deve ter algum interesse oculto em seu próprio beneficio e prejudicar meu dono.

Moral da História:

Gentilezas inesperadas é a principal característica

de uma pessoa com más intenções.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Em quem você votará para prefeito de São Paulo? (Enquete)

Seguindo determinações do TRE. Não se trata de uma pesquisa eleitoral, prevista no artigo 33 da lei nº 9.504/97, mas sim de um mero levantamento de opiniões, sem controle de amostragem, o qual não utiliza método científico para sua realização, contando com a participação espontânea do leitor deste blog.


Em quem você votaria para prefeito de São Paulo?
Ana Luiza - PSTU
Anaí Caproni - PCO
Carlos Giannazi - PSOL
Celso Russomanno - PRB
Eymael - PSDC
Fernando Haddad - PT
Gabriel Chalita - PMDB
José Serra - PSDB
Levy Fidelix - PRTB
Miguel - PPL
Paulinho da Força - PDT
Soninha - PPS
Branco ou Nulo

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Os Jasmins (Humberto de Campos)



- Que linda flor, almirante; e que perfume!

Foi assim que a linda viúva Dagmar Antunes recebeu, num arrulho gracioso, a florzinha alva, a mimosa estrelinha de neve, que o almirante Ribas destacara, gentil, da botoeira do seu "smoking" impecável.

- Dona Dagmar não conhece, porventura, a história desta flor? - perguntou, risonho, o velho marinheiro, tomando lugar ao lado da moça, no mesmo canapé.

E como a encantadora senhora lhe respondesse com o enigma de um sorriso, o almirante começou, falando-lhe quase ao ouvido:

- Para a primeira mulher, como a senhora sabe, a expulsão do Paraíso teve a importância de uma verdadeira calamidade. A maldição de Jeová tombava, principalmente, sobre ela, sobre o seu destino, sobre a sua felicidade na terra. Era ela que ia sofrer, dali em diante, as dores da multiplicação da espécie. Era sobre ela que iam recair as penas, os trabalhos, os cuidados da vida doméstica. Era sobre ela, em suma, que iam pesar as preocupações do vestuário, da mudança quotidiana da folha de parreira. E, por isso, era com o coração aos pedaços que ela ia deixar, para sempre, aquele abençoado domínio do Senhor.

Nesse ponto, fez pausa, olhou os dentes miudinhos da moça, que continuava a sorrir, e acrescentou, bordando a fabula:

- Expulsos do Éden, Adão e Eva baixaram a cabeça, e partiram, tristes, humildes, abatidos, para a horrível solidão do degredo. Assim, porém, que ultrapassaram os limites do grande jardim das delicias, nossa primeira mãe não pôde mais. Os lindos olhos umedeceram-se-lhe, como violetas tocadas de orvalho. E à medida que ela ia andando, iam as lágrimas caindo uma a uma, dos seus grandes olhos, assinalando, na areia, como pérolas do mesmo colar, as curvas do seu caminho. No dia seguinte, porém, ao amanhecer, o rosto da primeira mulher iluminou-se de uma divina felicidade: marcando os seus passos no Deserto, a areia aparecia semeada de florinhas em forma de estrela, alvas como a inocência e cheirosas como o pecado!

Virou-se mais para a moça, e explicou:

- Foi assim, das lágrimas da mulher, que nasceram os jasmins!

E olhando-lhe nos olhos, com a voz trêmula:

- E foi nas pétalas dos jasmins, D. Dagmar, que Deus talhou os seus dentes!

domingo, 23 de setembro de 2012

Poemas São como Vitrais Pintados (Johann Wolfgang von Goethe)


Poemas são como vitrais pintados!
Se olharmos da praça para a igreja,
Tudo é escuro e sombrio;
E é assim que o Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? — Que lhe preste!...
E agastado fique toda a vida!

Mas — vamos! — vinde vós cá para dentro,
Saudai a sagrada capela!
De repente tudo é claro de cores:
Súbito brilham histórias e ornatos;
Sente-se um presságio neste esplendor nobre;
Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus!
Edificai-vos, regalai os olhos!

Nostalgia do Presente (Jorge Luis Borges)


Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.

A luta com o monstro (Victor Hugo)


Depois do grande esforço, Gilliatt precisava recuperar as forças e começou a procurar alimento. Um grande caranguejo, assustado com a presença dele, tinha pulado na água, mas não mergulhou tanto que Gilliatt não o visse. Fugia, e Gilliatt correu atrás dele. De repente, não viu mais nada. O caranguejo metera‑se por algum buraco debaixo do rochedo.

Gilliatt atracou‑se aos relevos da pedra e esticou o pescoço, para tentar ver alguma coisa. Encontrou ali uma anfratuosidade que era mais que uma fenda, era um pórtico. O mar entrava por baixo desse pórtico, mas não era profundo. Via‑se o fundo coberto de pedrinhas, que eram esverdeadas e revestidas de filamentos, indicando que nunca estavam a seco. O caranguejo devia ter‑se refugiado aí.

Gilliatt pôs a faca entre os dentes, desceu do alto da rocha e saltou na água, que o cobriu quase até os ombros. Meteu‑se pelo pórtico, e penetrou num cor­redor com um esboço de abóbada ogival por cima. As paredes eram polidas e lisas. Já não via o caranguejo. Tomara pé, caminhava, e diminuía‑se a luz. Começou a não ver coisa alguma.

Depois de quinze passos, cessou a abóbada e ele se achou fora do corredor. Havia mais espaço e mais luz. Os olhos iam‑se acostumando ao lugar e viam cada vez melhor. 

Descobriu ao alcance da mão uma fenda horizontal no granito. Provavelmente estava ali o caranguejo. Meteu a mão o mais que pôde, e procurou às apalpadelas naquele buraco de trevas. De repente, sentiu que lhe agarravam o braço. O que ele experimentou, nesse momento, foi o horror indescritível.

Uma coisa que era delgada, áspera, chata, gelada, pegajosa e viva torcia-se na sombra à roda de seu braço nu, e subia‑lhe para o peito. Era a pressão de uma correia, e o impulso de uma verruma. Em menos de um segundo, uma espécie de espiral tinha‑lhe invadido o punho e o cotovelo e tocava‑lhe o ombro. A ponta metia‑se‑lhe na axila.

Gilliatt atirou‑se para trás, e mal pôde fazê‑lo. Estava como que pregado. Com a mão esquerda que ficava livre, pegou na faca que tinha entre os dentes. Com essa mão, que segurava a faca, apoiou-se no rochedo com um esforço desesperado para retirar o braço direito. Só conseguiu inquietar a ligadura, que se apertou mais. Era flexível como o couro, sólida como o aço, fria como a noite.

Outra correia, estreita e pontuda, saiu do buraco da rocha. Era uma espécie de língua saindo de uma goela e lambendo medonhamente o corpo nu de Gilliatt. De repente, esticando-se desmedida e fina, aplicou-se à pele e enrolou-se no corpo. Ao mesmo tempo um sofrimento inaudito, sem comparação neste mundo, levantava-lhe os músculos. Gilliatt sentia que a pele se abria em muitos pontos, de modo horrível. Parecia-lhe que inúmeros lábios, pregados à carne, procuravam beber-lhe o sangue.

Terceira correia saiu fora do rochedo, apalpou Gilliatt e chicoteou‑lhe os lados como uma corda. Afinal fixou‑se como as outras.

A angústia, no paroxismo, é muda. Gilliatt não soltou um grito. Havia bastante luz para que ele pudesse ver as formas repelentes aplicadas ao seu corpo.

Quarta ligadura, esta rápida como uma flecha, saltou‑lhe em roda do ventre e aí se enrolou.

Era impossível cortar ou arrancar aquelas correias viscosas, que lhe aderiam estreitamente ao corpo por muitíssimos pontos. Cada um desses pontos era um foco de terrível e estranha dor. Sentia como se fosse engolido ao mesmo tempo por uma porção de bocas pequeninas.

Quinta ligadura saltou-lhe ao tronco, sobrepôs‑se às outras e foi enroscar‑se na altura do diafragma. A compressão ajuntava‑se à ansiedade. Gilliatt mal podia respirar.

Aquelas ligaduras, pontudas na extremidade, alargavam-se como as lâminas de espada, da ponta para o punho. Todas cinco pertenciam evidentemente ao mesmo centro. Caminhavam e arrastavam‑se para Gilliatt. Ele sentia deslocarem‑se essas pressões obscuras que lhe pareciam bocas.

Bruscamente uma larga viscosidade redonda e chata saiu de dentro da rocha. Era o centro, e as cinco ligaduras prendiam‑se a ele como raios a um eixo. Do lado oposto daquele disco imundo, podia-se ver o começo de outros três tentáculos, presos no fundo do buraco. No meio dessa viscosidade havia dois olhos que olhavam para Gilliatt. Ele reconheceu naquilo um polvo.

Para acreditar no polvo, é preciso tê‑lo visto. Comparadas a ele, as velhas hidras fazem sorrir. Em certos momentos, parece que o elemento fugidio que flutua em nossos pesadelos encontra paralelo na realidade, e dessas obscuras ficções do sonho surgem criaturas. O ignoto dispõe do prodígio e serve-se dele para compor o monstro. Orfeu, Homero e Hesíodo só puderam fazer a quimera, Deus fez o polvo.

Quando Deus quer, excede no execrável. Admitidos todos os ideais, se o terror é um fim, o polvo é uma obra-prima.

Mas onde reside o perigo do polvo? A baleia é enorme, o polvo é pequeno; o hipopótamo tem uma couraça, o polvo é nu; a jararaca tem um silvo, o polvo é mudo; o rinoceronte tem um chifre, o polvo não tem chifre; o escorpião tem um dardo, o polvo não tem dardo; o tubarão tem barbatanas cortantes, o polvo não tem barbatanas; o morcego tem asas com unhas, o polvo não tem asas; o porco‑espinho tem espinhos, o polvo não tem espinhos; o espadarte tem um gládio, o polvo não tem gládio; o torpedo tem um raio, o polvo não tem raio; o sapo tem um vírus, o polvo não tem vírus; a víbora tem veneno, o polvo não tem veneno; o leão tem garras, o polvo não tem garras; o gipaeto tem um bico, o polvo não tem bico; o crocodilo tem uma goela, o polvo nem tem dentes.

O polvo não tem massa muscular, nem grito ameaçador, nem couraça, nem chifre, nem dardo, nem barbatanas, nem asas, nem espinhos, nem espada, nem descarga elétrica, nem vírus, nem veneno, nem garras, nem bico, nem dentes. Mas o polvo é, de todos os animais, o mais formidavelmente armado.
O que é o polvo? É a ventosa.
Nos escolhos em pleno mar, onde a água mostra e esconde todos os seus esplendores, nas cavas de rochedos não visitadas, nas cavas desconheci­das onde abundam vegetações, crustáceos e conchas, debaixo dos profundos pórticos do oceano, o nadador que se aventura, arrastado pela beleza do lugar, corre o risco de um encontro. Se tiveres esse encontro, não sejas curioso: foge. Entra‑se fascinado, sai‑se apavorado.
Nadando, o polvo conserva‑se, por assim dizer, na bainha. Nada com as antenas fechadas. Imagine um punho costurado dentro de uma manga. Esse punho, que é a cabeça, impele o líquido e avança com um vago movimento ondulatório. Os dois olhos, embora grandes, são pouco distintos por serem da cor da água. Uma forma cinzenta oscila na água, como um trapo. A pouco e pouco o trapo caminha para a vítima, sob a forma de um guarda-chuva fechado sem o tecido. De re­pente abre‑se, e oito raios projetam-se bruscamente em torno de um saco que tem dois olhos. Esses raios vivem, flamejam ondeando. É uma espécie de roda que se desenrola, com 4 ou 5 pés de diâmetro.

Ati­ra‑se ao infeliz. A hidra arpoa o homem, aplica‑se à sua presa, cobre‑a, envolve‑a com os seus longos braços. Por baixo é amarelada, por cima é térrea. Nada pode imitar esse inexplicável matiz de poeira, como se fosse um animal feito de cinza e morando na água. É aracnídeo pela forma, é camaleão pelo colorido. Irritado, torna-se roxo. Coisa horrível, é flácido. Os seus nós garroteiam, o seu contato paralisa. Tem um aspecto de escorbuto e de gangrena. É a moléstia feita monstruosidade.

Não se pode arrancá‑lo, pois agarra‑se estreitamente à sua presa. Como? Pelo vácuo. As oito antenas, largas na origem, vão se estreitando e terminam como agulhas. Debaixo de cada uma delas alongam‑se paralelamente duas filas de pústulas decrescentes, as grossas perto da cabeça, as pequenas na ponta, e cada fileira tem 25. Há cinqüenta pústulas em cada antena, e todo o animal tem quatrocentas.

Essas pústulas são ventosas. São cartilagens cilíndricas e lívidas. Na grande espécie, vão diminuindo de diâmetro, desde uma moeda de 5 francos até a grossura de uma lentilha. Esses pedaços de tubos saem e penetram na vítima. Podem penetrar no corpo de um homem mais de uma polegada. É um aparelho de sucção com a delicadeza de um teclado. Levanta‑se, esconde‑se, obedece à menor intenção do animal. As sensibilidades mais delicadas não igualam a contratilidade dessas ventosas, sempre proporcionadas aos movimentos internos do bicho e aos incidentes externos. É um dragão e é uma sensitiva.

Esse monstro é aquele que os marinheiros chamam polvo, que a ciência chama cefalópode, e que a legenda chama kraken. Os marinheiros ingleses chamam‑no devil‑fish, o peixe‑diabo. Chamam‑no também blood‑sucker, chupador de sangue. Nas ilhas da Mancha chamam‑no pieuvre.

Quando espreita a caça, o polvo esquiva‑se, diminui‑se, condensa-se, reduz‑se à mais simples expressão. Confunde‑se com a penumbra. Assemelha‑se a tudo, exceto a coisa viva. O polvo é o hipócrita, não se repara nele. Repentinamente, abre-se.

O que pode existir de mais medonho do que uma viscosidade com uma vontade? O viscoso cumulado de ódio?

É no mais belo azul da água límpida que surge essa hedionda estrela voraz do mar. O que é terrível é que não se o sente de longe. Quando a gente o vê, já está agarrado.

O polvo anda e também nada. É um tanto peixe e um tanto réptil. Arrasta-se no fundo do mar. Utiliza as suas oito pernas. Roja-se como a lagarta.

Não tem osso, nem sangue e nem carne, é flácido. Não tem nada dentro, é uma pele. Pode-se virar-lhe os tentáculos de dentro para fora, como dedos de uma luva. Tem um só orifício no centro dos oito raios. É frio todo ele.

Repelente bicho. É um contato hediondo essa gelatina animada que envolve o nadador, onde as mãos mergulham, onde as unhas trabalham, bicho que se rasga sem matar, e que se puxa sem desgarrar, espécie de criatura resvaladiça e tenaz, que escorrega entre os dedos. Nada iguala a súbita aparição do polvo, medusa servida por oito serpentes. Não há aperto igual ao do cefalópode.

É uma máquina pneumática que ataca. Luta-se com o nada ornado de patas. Nem unhas nem dentes, uma escarificação indizível. Uma mordedura é temível, mas menos ainda que uma sucção. A garra não iguala a ventosa. A garra é o animal que entra na carne, a ventosa é o homem sugado pelo bicho. Incham-se os músculos, torcem-se as fibras, rebenta a pele debaixo de um peso imundo, jorra o sangue e mistura-se horrivelmente à linfa do molusco. O bicho sobrepõe-se ao homem por mil bocas infames. A hidra incorpora-se ao homem, o homem amalgama-se à hidra. Ficam sendo um só. O tigre pode apenas devorar, já o polvo (horror!) aspira, puxa o homem a si e em si.

Atado, enviscado, impotente, o homem sente-se lentamente esvaziado naquele terrível saco, que é um monstro. Além do terrível, que é ser comido vivo, há o inexprimível, que é ser bebido vivo.

Aquele monstro era o habitante daquela grota. Era o medonho gênio do lugar, estava em sua casa. Quando Gilliatt, entrando pela caverna em busca do caranguejo, viu o buraco onde pensou que ele se tivesse refugiado, o polvo estava ali à espreita. Gilliatt metera o braço no buraco, e o polvo o agarrou. Estava preso, era a mosca daquela aranha.

Gilliatt tinha água até a cintura, os pés agarrados nos seixos arredondados e resvaladiços, com o braço direito atado pelas correias do polvo e o tronco do corpo quase desaparecendo debaixo das dobras e cruzamentos daquela atadura horrível.

Dos oito tentáculos do polvo, três aderiam à rocha, cinco aderiam a Gilliatt. Deste modo, agarrados ao granito por um lado e ao homem pelo outro, encadeavam-no ao rochedo. Gilliatt tinha sobre o seu corpo 250 chupadores. Estava apertado dentro de uma grande mão, com dedos elásticos e do comprimento de um metro, cheios de pústulas vivas que lhe fuçavam na carne.

Não se pode arrancar o polvo. Quem o tenta, fica mais fortemente amarrado. Ele aperta-se mais, o seu esforço cresce na razão do esforço da vítima. Quanto maior é a sacudidela, maior é a constrição.

Gilliatt só tinha um recurso: a faca. Tinha a mão esquerda livre, e nela a faca aberta. Mas não se cortam as antenas do polvo; é um couro impossível de cortar, pois resvala debaixo da lâmina. E tal é a forma de contato, que um corte nessas correias atingiria a própria carne.

O polvo é formidável, mas há uma maneira de vencê-lo. Os pescadores o sabem, os ouriços-do-mar também o sabem. Ele só é vulnerável na cabeça, e Gilliatt não o ignorava.

Há um momento para vencer o polvo, como o há para o touro. É o instante em que o touro curva o pescoço, é o instante em que o polvo estica a cabeça. Instante rápido. Quem o deixa escapar, está perdido.
O polvo procura apavorar a presa. Agarra e espera o mais que pode. Gilliatt tinha a faca na mão. As sucções aumentavam. Ele olhava para o polvo, o polvo olhava para ele.

De repente o bicho desprendeu do rochedo a sexta antena. Atirando-a sobre Gilliatt, procurou agarrar-lhe o braço esquerdo. Ao mesmo tempo esticou vivamente a cabeça. Mais um segundo, e a sua boca aplicar-se-ia sobre o peito de Gilliatt. Sangrando no corpo e preso pelos braços, ele estaria morto.

Mas Gilliatt vigiava. Espreitado, espreitava. Evitou a antena. No momento em que o bicho ia agarrar-lhe o peito, a sua mão armada abateu-se sobre o bicho. Houve duas convulsões em sentido inverso – a do polvo e a de Gilliatt. Foi luta de dois relâmpagos.

Gilliatt mergulhou a ponta da faca na viscosidade chata. Com um movimento giratório semelhante à torção de uma chicotada, fazendo um círculo à roda dos dois olhos, arrancou a cabeça como quem arranca um dente.

Estava acabado. O bicho caiu. Parecia uma roupa que se desprende. Destruída a bomba aspirante, desfez-se o vácuo. As quatrocentas ventosas largaram ao mesmo tempo o rochedo e o homem. Aquele andrajo foi ao fundo da água.

Gilliatt, ofegante da luta, pôde ver a seus pés, em cima das pedras do fundo, dois montes gelatinosos e informes – a cabeça de um lado, o resto de outro. Dizemos resto, porque não se poderia dizer corpo.
O animal estava bem morto. Gilliatt fechou a faca.


DO LIVRO "OS TRABALHADORES DO MAR"

Pequena Digressão (Voltaire)

Logo no começo da fundação dos Quinze-Vingts, sabe-se que os asilados eram todos iguais e seus assuntos se decidiam por votação. Distinguiam perfeitamente, pelo tato, a moeda de cobre da de prata; nenhum deles tomou jamais vinho de Brie por vinho de Borgonha. Seu olfato era mais fino que o de seus patrícios que tinham dois olhos. Aprofundaram-se perfeitamente nos quatro sentidos. Isto é, ficaram sabendo acerca deles tudo quanto é possível; e viveram tranqüilos e felizes na medida em que os cegos o podem ser. Infelizmente, um de seus professores julgou possuir noções claras sobre o sentido da vista; fez-se ouvir, intrigou, granjeou partidários; reconheceram-no afinal como chefe da comunidade. Pôs-se a julgar soberanamente em matéria de cores, e aí é que foi a perdição.

Esse primeiro ditador dos Quinze-Vingts formou primeiro um pequeno conselho, com o qual se tornou depositário de todas as esmolas. Por esse motivo, ninguém se atreveu a resistir-lhe. Decidiu ele que todas as roupas do Quinze-Vingts eram brancas; os cegos acreditaram; não falavam senão de seus belos trajes brancos, embora não houvesse entre eles um único dessa cor. Como todo o mundo começasse então a zombar deles, foram queixar-se ao ditador, que os recebeu muito mal; tratou-os de inovadores, de espíritos fortes, de rebeldes, que se deixavam seduzir pelas opiniões errôneas daqueles que tinham olhos e ousavam duvidar da infalibilidade de seu senhor. Dessa querela, formaram-se dois partidos.

O ditador, para os apaziguar, baixou um decreto segundo o qual todas as suas vestes eram vermelhas. Não havia uma única veste vermelha entre os Quinze-Vingts. Riram-se deles mais do que nunca. Novas queixas da comunidade. O ditador enfureceu-se, os outros cegos também. Disputaram longamente, e só se restabeleceu a concórdia quando foi permitido, a todos os Quinze-Vingts, suspenderem o juízo sobre a cor de sua roupa.

Um surdo, ao ler esta pequena história, confessou que os cegos tinham feito muito mal em querer julgar a respeito de cores, mas permaneceu firme na opinião de que só aos surdos compete falar de música.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Israel Kamakawiwo'ole - Over The Rainbow



Pena que este talento tenha nos deixado tão jovem. Israel Ka'ano'i Kamakawiwo'ole nasceu no dia 20 de maio de 1959 em Honolulu, cidade onde viveu até vir a falecer no dia 26 de junho de 1997. Um talento tão grande não poderia partir tão cedo, partiu com apenas 38 anos de idade. Um de seus álbuns mais famosos foi Facing Future, de 1993, trabalho que o lançou para a fama mundial, onde consta o tema "Over the Rainbow/What a Wonderful World", uma versão que mistura dois clássicos da música americana. "Somewehere Over the Rainbow", do filme The Wizard of Oz (br: O Mágico de Oz / O Feiticeiro de Oz), e "What a Wonderful World", esta última conhecida mundialmente na voz inigualável de Louis Armstrong. O resultado? Bem, o resultado é um primor.

Sem mais comentários. Deixo o vídeo para que você, leitor, possa apreciar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A cidade dos resmungos (William J. Bennett)



Era uma vez um lugar chamado Cidade dos Resmungos, onde todos resmungavam, resmungavam, resmungavam. No verão, resmungavam que estava muito quente. No inverno, que estava muito frio. Quando chovia, as crianças choramingavam porque não podiam sair. Quando fazia sol, reclamavam que não tinham o que fazer. Os vizinhos queixavam-se uns dos outros, os pais queixavam-se dos filhos, os irmãos das irmãs.

Todos tinham um problema, e todos reclamavam que alguém deveria fazer alguma coisa.
Um dia chegou à cidade um mascate carregando um enorme cesto às costas. Ao perceber toda aquela inquietação e choradeira, pôs o cesto no chão e gritou:

- Ó cidadãos deste belo lugar! Os campos estão abarrotados de trigo, os pomares carregados de frutas. As cordilheiras estão cobertas de florestas espessas, e os vales banhados por rios profundos. Jamais vi um lugar abençoado por tantas conveniências e tamanha abundância. Por que tanta insatisfação? Aproximem-se, e eu lhes mostrarei o caminho para a felicidade.

Ora, a camisa do mascate estava rasgada e puída. Havia remendos nas calças e buracos nos sapatos. As pessoas riram que alguém como ele pudesse mostrar-lhes como ser feliz. Mas enquanto riam, ele puxou uma corda comprida do cesto e a esticou entre os dois postes na praça da cidade.

Então segurando o cesto diante de si, gritou:

- Povo desta cidade! Aqueles que estiverem insatisfeitos escrevam seus problemas num pedaço de papel e ponham dentro deste cesto. Trocarei seus problemas por felicidade!
A multidão se aglomerou ao seu redor. Ninguém hesitou diante da chance de se livrar dos problemas. Todo homem, mulher e criança da vila rabiscou sua queixa num pedaço de papel e jogou no cesto.

Eles observaram o mascate pegar cada problema e pendurá-lo na corda. Quando ele terminou, havia problemas tremulando em cada polegada da corda, de um extremo a outro. Então ele disse:

Agora cada um de vocês deve retirar desta linha mágica o menor problema que puder encontrar.

Todos correram para examinar os problemas. Procuraram, manusearam os pedaços de papel e ponderaram, cada qual tentando escolher o menor problema. Depois de algum tempo a corda estava vazia.

Eis que cada um segurava o mesmíssimo problema que havia colocado no cesto. Cada pessoa havia escolhido o seu próprio problema, julgando ser ele o menor da corda.
Daí por diante, o povo daquela cidade deixou de resmungar o tempo todo. E sempre que alguém sentia o desejo de resmungar ou reclamar, pensava no mascate e na sua corda mágica.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Meios e fins (Texto de Autor Desconhecido)



Um homem de negócios, americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, observou um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento, trazendo um único pescador. No barco, vários grandes atuns de barbatana amarela. O americano deu parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e lhe perguntou quanto tempo levara para pescá-los.
- "Pouco tempo" - Respondeu o mexicano.
Em seguida, o americano perguntou por que ele não permanecia no mar mais tempo, o que lhe teria permitido uma pesca mais abundante.
O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender as necessidades imediatas de sua família.
O americano voltou à carga:

- "Mas o que é que você faz com o resto de seu tempo?"

O mexicano respondeu:
- "Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, tiro a sesta com minha mulher, Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor".

O americano assumiu um debochado ar de pouco caso e disse:

- "Eu sou formado em Administração de empresas em Harvard, perito em 'Qualidade' e poderia ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo pescando e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar vários outros. No fim, teria uma frota de barcos pesqueiros. Em vez de vender pescado a um intermediário, venderia diretamente à uma indústria processadora e, no fim, poderia ter sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria sua empresa em expansão".

- "Mas, senhor, quanto tempo isso levaria?" - Perguntou o pescador, com os olhos arregalados.

- "15 ou 20 anos" - Respondeu triunfante o americano.

- "E depois, senhor?"

O americano riu, e disse que essa seria a melhor parte.
- "Quando chegasse a ocasião certa, você poderia abrir o capital de sua empresa ao público e ficar muito, muito rico. Ganharia milhões".
- "Milhões, senhor? E depois?"

- "Depois..." - Explicou o americano - "...Você se aposentaria... Mudaria para uma pequena aldeia costeira, onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os seus netos, tiraria a sesta com a sua esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia tomar vinho e tocar violão com os amigos..."

- "Pois é, senhor... É exatamente assim que eu vivo!" - Concluiu, sorrindo, o pescador...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Woo Sing e o Espelho (William J. Bennet)



Um dia, o pai de Woo Sing chegou em casa com um espelho trazido da cidade grande.

Woo Sing nunca vira um espelho na vida. Dependuraram-no na sala enquanto ele estava brincando lá fora; quando voltou, não compreendeu o que era aquilo, pensando estar na presença de outro menino.

Ficou muito alegre, achando que o menino viera brincar com ele.

Ele falou muito amigavelmente com o desconhecido, mas não teve resposta.

Riu e acenou para o menino no vidro, que fazia a mesma coisa, exatamente da mesma maneira.

Então, Woo Sing pensou: "Vou chegar mais perto. Pode ser que ele não esteja me escutando." Mas quando começou a andar, o outro menino logo o imitou.

Woo Sing estacou e ficou pensando nesse estranho comportamento. E disse para si mesmo:

"Esse menino está zombando de mim; faz tudo o que eu faço!"

E quanto mais pensava, mais zangado ficava. E logo reparou que o menino estava zangado também.

Isso acabou de exasperar Woo Sing! Deu um tapa no menino, mas só conseguiu machucar a mão, e foi chorando até seu pai. Este lhe disse:

- O menino que você viu era a sua própria imagem. Isso deve ensinar você uma importante lição, meu filho. Tente não perder a cabeça com as outras pessoas. Você bateu no menino no vidro e só conseguiu machucar a si mesmo.

"E lembre-se: na vida real, quando você agride sem motivo, o mais magoado é você mesmo."

domingo, 16 de setembro de 2012

A Águia, o Corvo e o Pastor (Esopo)



Lançando-se do ar, uma águia arrebatou um cordeirinho.

O corvo, vendo aquilo, tratou de imitá-la, e se jogou sobre um carneiro mas, de forma tão desengonçada que acabou por se enredar na lã e, debatendo-se em vão com suas asas, não conseguiu se soltar. O pastor, vendo aquilo, recolheu o corvo e, cortando as pontas de suas asas, o levou a seus filhos.

Perguntaram seus filhos sobre que ave era aquela, e ele lhes disse:

- Para mim, apenas um corvo, mas ele acha que é uma águia.

Moral da história:
Põe teu esforço e dedicação no que realmente estás preparado, não no que não te corresponde.

sábado, 15 de setembro de 2012

Ligação profunda (Susana B. Wilson)



Minha mãe e eu temos uma ligação muito profunda devido a nossa misteriosa habilidade para nos comunicarmos silenciosamente uma com a outra.

Quatorze anos atrás, eu estava morando em Evanville, Indiana, a 1300 Km de distância de minha mãe, minha confidente e melhor amiga. Uma manhã, enquanto estava num estado silencioso de contemplação, senti subtamente a necessidade urgente de telefonar para a minha mãe e perguntar se estava tudo bem. A principio, hesitei. Já que minha mãe dava aulas para a quarta série primária, telefonar-lhe às 7:15 da manhã poderia interromper sua rotina e fazer com que se atrasasse para o trabalho. Mas algo me compeliu a ir em frente e telefonar. Conversamos durante três minutos e ela me assegurou que estava sã e salva.

Mas tarde naquele dia, o telefone tocou. Era mamãe, dizendo que meu telefonema matutino provavelmente lhe salvara a vida. Se ela tivesse saído de casa três minutos mais cedo, se veria envolvida num acidente interestadual que matará várias pessoas e ferira outras tantas.

Oito anos atrás descobri que estava grávida de meu primeiro filho. A data prevista para o nascimento era 15 de março. Eu disse ao médico que era cedo demais. A data teria de cair entre 29 de março e 3 de abril, pois era quando minha mãe tinha férias de Páscoa na escola, e é claro que eu a queria comigo. O médico ainda insistiu que a data prevista era em meados de março. Eu apenas sorri. Reid chegou dia 30 de março. Mamãe chegou no dia 31.

Seis anos atrás, eu estava grávida novamente. O médico falou que a data prevista era para final de março. Eu disse que teria que ser mais cedo dessa vez porque ? - Você adivinhou - as férias de mamãe eram do começo de março. Tanto o médico quanto eu sorrimos. Breanne chegou no dia 8 de março.

Dois anos e meio atrás, mamãe estava lutando contra o câncer. Com o tempo, ele perdeu a energia, o apetite, a habilidade de falar. Após um fim de semana com ela na Carolina do Norte, eu tinha que preparar para voar de volta para o Meio-Oeste. Ajoelhei-me ao lado da cama de mamãe e peguei a mão dela.

-Mamãe, se eu puder, você quer que eu volte ?

Seus olhos se arregalaram enquanto ela tentava concordar com a cabeça.
Dois dias depois, recebi um telefonema de meu padrasto. Minha mãe estava morrendo. Membros da família estavam reunidos para os ritos finais. Eles me colocaram no viva-voz para ouvir o serviço religioso.

Naquela noite, tentei ao máximo mandar meu adeus para a a minha mãe através dos kilômetros que nos separaram. Na manhã seguinte seguinte, porém o telefone tocou : mamãe ainda estava viva, mas estava em coma e esperava-se que morreria a qualquer minuto. Mas ela não morreu. Nem naquele dia, nem no dia seguinte. Nem no outro. Todas as manhãs eu recebia o mesmo telefonema: ela podia morrer a qualquer minuto. Mas não morria. E todos os dias minha dor e minha tristeza eram expostas.

Depois de quatro semanas, finalmente entendi: mamãe estava me esperando. Ela me comunicara que gostaria que eu voltasse, se pudesse. Eu não tinha podido antes, mas agora eu podia. Fiz as reservas imediatamente.

Por volta das 17 h daquela tarde, eu estava deitada na cama com os braços em volta dela. Ela ainda estava em coma, mas eu sussurrei :

-Estou aqui mamãe. Você já pode ir. Obrigada por esperar. Você já pode ir.
Ela morreu apenas algumas horas depois.

ACHO QUE QUANDO UMA LIGAÇÂO É PROFUNDA E PODEROSA, VIVE PARA SEMPRE EM ALGUM LUGAR MUITO ALÉM DAS PALAVRAS E È DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL. COM TODA A AGONIA DA MINHA PERDA, EU NÃO TROCARIA A BELEZA E O PODER DA MINHA LIGAÇÃO POR NADA."


























sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dormir enquanto os ventos sopram



Alguns anos atrás, um fazendeiro possuía terras ao longo do litoral do Atlântico. Ele constantemente anunciava estar precisando de empregados. A maioria de pessoas estavam pouco dispostas a trabalhar em fazendas ao longo do Atlântico.
Temiam as horrorosas tempestades que variam aquela região, fazendo estragos nas construções e nas plantações.
Procurando por novos empregados, ele recebeu muitas recusas. Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se aproximou do fazendeiro.

- Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro.
- Bem, eu posso dormir enquanto os ventos sopram.

Respondeu o pequeno homem.

Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou. O pequeno homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer até o anoitecer e o fazendeiro estava satisfeito com o trabalho do homem.

Então, uma noite, o vento uivou ruidosamente. O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. Sacudiu o pequeno homem e gritou,

- Levanta! Uma tempestade está chegando! Amarre as coisas antes que sejam arrastadas!

O pequeno homem virou-se na cama e disse firmemente,

- Não senhor. Eu lhe falei, eu posso dormir enquanto os ventos sopram.

Enfurecido pela resposta, o fazendeiro estava tentado a despedí-lo imediatamente. Em vez disso, ele se apressou a sair e preparar o terreno para a tempestade. Do empregado, trataria depois.

Mas, para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos nos viveiros, e todas as portas muito bem travadas. As janelas bem fechadas e seguras. Tudo foi amarrado. Nada poderia
ser arrastado. O fazendeiro então entendeu o que seu empregado quis dizer, então retornou para sua cama para também dormir enquanto o vento soprava.

O que eu quero dizer com esta história, é que quando se está preparado espiritualmente, mentalmente e fisicamente - você não tem nada a temer.

Eu lhe pergunto: você pode dormir enquanto os vento sopram em sua vida?
Espero que você durma bem!




Texto extraído do livro “Histórias da Tradição Sufi”

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A arte de ser feliz (Cecília Meireles)



Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regra: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que as coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para vê-las assim."

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Pegadas na areia (Texto de Autor Desconhecido)



Uma noite eu tive um sonho. Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e através do Céu passavam cenas de minha vida. Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia; um era o meu, e o outro, do Senhor.

Quando a última cena de minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes no caminho da minha vida havia apenas um par de pegadas na areia. Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos da minha vida. Isso aborreceu-me e então perguntei ao Senhor:

- Senhor, Tu me disseste que, uma vez que eu resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo, em todo o caminho. Contudo, notei que durante as maiores atribulações do meu viver, havia apenas um par de pegadas na areia. Não compreendo porque nas horas em que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixaste sozinho.

O Senhor me respondeu:

- Meu querido filho. Jamais te deixaria nas horas de prova e de sofrimento. Quando vistes na areia, só um par de pegadas, eram as minhas. Foi exactamente aí que eu te carreguei em meus braços.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Rabo do Macaco (Monteiro Lobato)



Era um macaco que resolveu sair pelo mundo a fazer negócios. Pensou, pensou e foi colocar-se numa estrada, por onde vinha vindo, lá longe, um carro de boi. Atravessou a cauda na estrada e ficou esperando. Quando o carro chegou e o carreiro viu aquele rabo atravessado, deteve-se e disse:

- Macaco, tire o rabo da estrada, senão passo por cima!

- Não tiro! – respondeu o macaco – e o carreiro passou e a roda cortou o rabo do macaco.

O bichinho fez um barulho medonho.

- Eu quero o meu rabo, eu quero o meu rabo ou então uma faca!

Tanto atormentou o carreiro que este sacou da cintura a faca e disse:

- Tome lá, seu macaco dos quintos, mas pare com esse berreiro, que está me deixando zonzo.

O macaco lá se foi, muito contente da vida, com a sua faca de ponta na mão.

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Logo adiante deu com um tio velho que estava fazendo balaios e cortava o cipó com os dentes.

- Olá amigo! – berrou o macaco – estou com dó de você, palavra! Tome esta faca de ponta.

O negro pegou a faca mas quando foi cortar o primeiro cipó a faca se partiu pelo meio.

O macaco botou a boca no mundo – eu quero, eu quero minha faca ou então um balaio!

O negro, tonto com aquela gritaria, acabou dando um balaio velho para aquela peste de macaco que, muito contente da vida, lá se foi cantarolando:

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Mais adiante encontrou uma mulher tirando pães do forno, que recolhia na saia.

- Ora, minha sinhá – disse o macaco, onde já se viu recolher pão no colo? Ponha-os neste balaio.

A mulher aceitou o balaio, mas quando começou a botar os pães dentro, o balaio furou.

O macaco pôs a boca no mundo.

- Eu quero, eu quero o meu balaio ou então me dê um pão.

Tanto gritou que a mulher, atordoada, deu-lhe um pão. E o macaco saiu a pular, cantarolando:

- Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio; perdi meu balaio, ganhei um pão. Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

E lá se foi muito contente da vida, comendo o pão.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Solstício de Inverno (André Maurois)



Muito longe, no céu, em Júpiter ou Saturno, ou melhor ainda em Sírius, dois astrônomos dirigiram seus telescópios para a Terra. Um deles é um velho siriata, sábio ilustre, e outro seu discípulo, ainda principiante. Neste instante é o último que, com o olho na ocular observa os astros.

O VELHO ASTRÔN0MO – Olha. Esse globo luminoso e pálido é a Terra. Ela acaba de atravessar o solstício de inverno e começa aquilo a que seus habitantes chamam um novo ano. Com uma ampliação maior, vou fazer com que os veja a correr pelas ruas de suas cidades. É quando, sem dúvida para se tranqüilizarem nessa época de noites longas e frias, eles se presenteiam reciprocamente e celebram festas noturnas… (Faz girar uma manivela.) 135, 136, 136, 5… isto deveria bastar… Dize-me o que estás vendo.

O DISCÍPULO – Que espetáculo admirável, mestre! Vejo imensos povoados, em agitação. Cobre-os um nevoeiro cinzento e nesse nevoeiro caminham alegremente homens e mulheres. Todos carregam embrulhos amarrados com barbantes de cor. Alguns apertam nos braços uma árvore coberta de geada. As mães levantam os filhos e mostram-lhes os brinquedos guardados em gaiolas de vidro. Os mais pobres compram um presente qualquer. Quem esperaria encontrar tanto amor em criaturas tão miseráveis?

O VELHO ASTRÔNOMO – Gosto dessa pequena raça; é corajosa. Há quinze mil anos terrestres que a venho observando. Ela procura construir uma felicidade durável. Todas as vezes que o edifício parece próximo de sua conclusão, desaba e sepulta milhões de terráqueos. Todas as vezes, sem desanimar, essas efêmeras recomeçam seus minúsculos esforços.

O DISCÍPULO – Lembro-me, mestre. Faz alguns dias, quando o senhor me dava suas primeiras lições, mostrou-me os terráqueos que procuravam destruir-se mutuamente. Era horroroso. Membros e cabeças arrebentavam. Gases mortíferos asfixiavam rebanhos inteiros. Seus povoados ardiam. Eu não podia compreender a fúria desses animálculos… Como é possível, mestre, que os mesmos seres revelem hoje tanta bondade? Pelo menos repararam suas ruínas?

O VELHO ASTRÔNOMO – Observa tu mesmo.

O DISCÍPULO, (deslocando suavemente a luneta) – A desordem ainda é grande. As casas estão reconstruídas, mas as trilhas das caravanas continuam desertas e os navios estão nos portos, inúteis. No oriente, à orla de um grande oceano, alguns insetos batalham. Por toda a parte estão paradas as fábricas, por toda a parte vejo milhares de seres desocupados que buscam penosamente com que se alimentar… Oh! mestre! Eis um espetáculo inacreditável. Nesse mesmo glóbulo de lama onde há terráqueos morrendo de fome, outros terráqueos acumulam e deixam apodrecer colheitas que parecem inúteis… Estarão loucos?

O VELHO ASTRÔNOMO – Realmente, esse é o mais louco de todos os planetas. Tal qual o estás vendo hoje, ou o vi, eu que o conheço bem, dez vezes, cem vezes, no decorrer de sua história. Após cada convulsão, são-lhe necessários quinze ou vinte anos terrestres para recuperar o equilíbrio. Depois ele goza trinta ou quarenta anos de paz, e recomeça.

O DISCÍPULO – Mas não compreenderá a vaidade desses passatempos cruéis?

O VELHO ASTRÔNOMO – Talvez comece a compreender. Eu desesperaria desses terráqueos se não verificasse que, desde que os observo, no fim de contas, progrediram um pouco. Vi-os fracos e miseráveis, refugiados no alto das florestas para escapar às feras, famintos. A pouco e pouco vi-os tornarem-se os senhores do planeta.

O DISCÍPULO (rindo) – Senhores de uma gota de lama…

O VELHO ASTRÔNOMO – Para eles ela é o mundo. Vencedores dos animais, investiram contra os elementos. Comparar sua ciência à nossa seria cômico. Apesar disso, para animálculos insignificantes, que vitória! E agora, têm a seu serviço tantas forças novas que se vêem em dificuldades com elas. Breve entrarão, como os siriatas, na era dos ócios inteligentes.

O DISCÍPULO – Compreendem ele sua história? Que pensam da aventura de sua raça?

O VELHO ASTRÔNOMO – Abre o auscultador inter-estelar.
0 jovem siriata regula, não sem dificuldade, um aparelho de mil engrenagens. Primeiro “pega”, estouvadamente, Saturno, Vênus, depois acha a Terra. Vozes a principio confusas tornam-se claras.

AS VOZES TERRESTRES
Crise sem precedentes – Catástrofe – Feliz Natal – Boas Entradas – Desta vez, é o desastre definitivo – Mas não, meu querido, nada há de definitivo – Feliz Natal – Boas Entradas – Estou arruinado – Que leva aí? – Alguns presentes para as crianças – Feliz Natal – Boas Entradas -.

O DISCÍPULO – Como podem eles misturar assim votos festivos e lamentações?

O VELHO ASTRÔNOMO – Não têm razão? Não sabes tu mesmo que esse hemisfério, atualmente velado pela bruma e a neve, cobrir-se-á com as flores viçosas da primavera dentro de três ou quatro meses? A árvore negra e contorcida estará então como um ramalhete rosa ou branco, a relva viridente sairá da terra nua e a ordem da desordem. Assim marcha o mundo.

O DISCÍPULO – Mundo estranho e cruel.

O VELHO ASTRÔNOMO – Mas que não é destituído de beleza.

domingo, 9 de setembro de 2012

Segunda ou Terça-feira (Virginia Woolf)



Preguiçosa e indiferente, vibrando facilmente o espaço com suas asas, conhecendo seu rumo, a garça sobrevoa a igreja por baixo do céu. Branca e distante, absorta em si mesma, percorre e volta a percorrer o céu, avança e continua. Um lago? Apaguem suas margens! Uma montanha? Ah, perfeito – o sol doura-lhe as margens. Lá ele se põe. Samambaias, ou penas brancas para sempre e sempre.

Desejando a verdade, esperando-a, laboriosamente vertendo algumas palavras, para sempre desejando – (um grito ecoa para a esquerda, outro para a direita. Carros arrancam divergentes. Ônibus conglomeram-se em conflito) para sempre desejando – (com doze batidas eminentes, o relógio assegura ser meio-dia; a luz irradia tons dourados; crianças fervilham) – para sempre desejando a verdade. O domo é vermelho; moedas pendem das árvores; a fumaça arrasta-se das chaminés; ladram, berram, gritam “Vende-se ferro!” – e a verdade?

Radiando para um ponto, pés de homens e pés de mulheres, negros e incrustados a ouro – (Este tempo nublado – Açúcar? Não, obrigado – a comunidade do futuro) – a chama dardejando e enrubescendo o aposento, exceto as figuras negras com seus olhos brilhantes, enquanto fora um caminhão descarrega, Miss Fulana toma chá à escrivaninha e vidraças conservam casacos de pele.

Trêmula, leve-folha, vagueando nos cantos, soprada além das rodas, salpicada de prata, em casa ou fora de casa, colhida, dissipada, desperdiçada em tons distintos, varrida para cima, para baixo, arrancada, arruinada, amontoada – e a verdade?

Agora recolhida pela lareira, no quadrado branco de mármore. Das profundezas do marfim ascendem palavras que vertem seu negrume. Caído o livro; na chama, no fumo, em momentâneas centelhas – ou agora viajando, o quadrado de mármore pendente, minaretes abaixo e mares indianos, enquanto o espaço investe azul e estrelas cintilam – verdade? Ou agora, consciente da realidade?

Preguiçosa e indiferente, a garça retoma; o céu vela as estrelas; e então as revela.

sábado, 8 de setembro de 2012

Linhas Sobre a Cerveja (Edgar Allan Poe)


Cheio de espuma e âmbar misturados
Esvaziarei este copo novamente
Visões as mais hilariantes embarafustam
Pela alcova de meu cérebro
Pensamentos os mais curiosos fantasias as mais extravagantes
Ganham vida e se dissipam;
O que me importa o passar das horas?
Hoje estou tomando cerveja.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

E Não Sobrou Ninguém (Martin Niemöller)



Martin Niemöller (nascido em Lippstadt, 14 de janeiro de 1892 — falecido em Wiesbaden, seis de março de 1984) filho de pastor luterano, foi criado para ser fiel ao imperador e com sentimento patriótico. Após formar-se no colegial, ingressou na Marinha como soldado de carreira. Durante a Primeira Guerra Mundial, serviu como comandante de submarino, vindo a ser condecorado com a Cruz de Ferro. Após a guerra, viveu durante algum tempo em Freikorps e estudou Teologia. Em 1931, foi ordenado pastor da Igreja de Santa Ana em Dahlen, subúrbio de Berlim.

Histórias à parte, o que nos interessa mesmo é o fato de ele ter sido um dos poucos intelectuais que levantaram a voz contra o nazismo. Mesmo depois de ordenado pastor ele manteve-se fiel as suas convicções patrióticas e conservadores. Uma prova de que nem mesmo o populismo desenfreado é capaz de cooptar a todos...

Niemöller é o autor de um célebre poema “E Não Sobrou Ninguém”

"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse."

Os políticos são o espelho da sociedade.

      O nosso problema não está no fato de o país ser unitário ou federado, de ele ser república ou monarquia, de ele ser presidenciali...