"Sou um humanista. Isso não significa ser bonzinho ou acreditar que o homem é bonzão. Significa apenas que aceito o homem como é - medroso, primário, invejoso, incapaz, acertando por acaso e errando por vaidade: meu irmão." - Millôr Fernandes
segunda-feira, 7 de março de 2011
A HISTORIA DE EVA (Regina Caldas)
Ela permanece acocorada sobre a mesma pedra,
Todos os dias, é milenar a sua vigília!
De onde se encontra, pousa o plácido olhar
Sobre a planície, e alem, divisa os contornos azulados
Dos montes ao redor...
Ela assim permanece, enquanto a noite chega
E impregna de temores o seu ser...
Ao lado, muito próximo, ela ouve o arfar do homem,
Que se interpõe entre o silencio e a solidão.
Atrás de si estão as florestas,
Caminhos estreitos esquecidos na memória,
Um dia transpostos por ordem incompreendida
De um Ser Supremo que a expulsou do paraíso.
Ela permanece acocorada sobre a mesma pedra,
Todos os dias, não sabe o que fazer de si!
Guarda na memória lembranças que atormentam,
Lá distante, o uivo dos lobos..
No azul escuro, muito próximas,
Um céu cheio de luzes..
Criam lendas e sonhos,
Arrastam o seu ser por caminhos sempre iguais..
Temerosa ela se afasta das pedras,
Em busca do leito de dores,
E as suas mãos trêmulas buscam a fonte do amor,
E o corpo se aconchega no calor que desprende do outro.
Na madrugada, estrelas que se desvanecem
No branco do alvorecer.
Das matas chega o uivo dos lobos,
Enquanto o gérmen da vida é lançado sobre a terra,
Semente do bem e do mal.
A mulher, acocorada sobre a mesma pedra,
Não compreende porque as suas mãos ansiosas
Insistem em deslizar sobre o corpo volumoso
Que geme de dor e pulsa de alegria..
Ela descansa o olhar sereno no horizonte,
Nada sabe! Mas sente e intui
Lá adiante, no futuro,
Três seres dar-se-ão as mãos,
Juntos iniciam a monumental tarefa
De gerar a vida, povoar a terra,
Plantar, colher, e através dos séculos,
Registrar a história humana que se estende pelo tempo.
Acocorada sobre a mesma pedra, a mulher
Entoa as cantigas de roda, e além,
Arco e flecha nas mãos, o homem parte para as batalhas
Ou segue atrás das caças.
Ela, sem nada compreender,
Indaga das bruxas que rondam a noite,
O que será de si, o que será do futuro..
Passa o tempo e não obtém respostas.
Continua a mesma, acocorada sobre as pedras,
Os navios partem e retornam,
O peixe é despejado sobre a areia,
Seres pequeninos se aconchegam em seu colo
E se alimentam do bálsamo das suas mãos.
Enquanto ela, não comunga com os hinos dos vitoriosos,
Ela só almeja a paz, tem os pés no chão,
Tem a prole para cuidar.
Só almeja a luz do dia para se espelhar no olhar
Dos seus eternos pequeninos.
A mulher, acocorada sobre a mesma pedra,
Descobre entre as estrelas os sonhos que projeta,
Filetes de carne esculpidos pelas longas noites de espera,
E os longos dias de dores.
A sua alma, tímida pomba prisioneira em seu corpo,
Está solitária, eles partiram e ela não compreende porque.
Suas indagações continuam as mesmas,
Enquanto suas mãos jorram feixes de luz sobre o futuro,
Ela é a matriz, abre os caminhos por instinto.
Ela repousa sobre a mesma pedra,
Carregando dentro do corpo,
E carregando dentro da alma,
Os mistérios.
A mulher, bendita esperança, a Mulher.
Regina Caldas/14-07-88
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Belo texto
ResponderExcluirHomenagem oportuna à mulher