terça-feira, 2 de novembro de 2010

Aborto, um direito à vida ou uma questão de saúde pública?

Há décadas se discute a questão do aborto no Brasil. Por vários motivos este assunto tem sido um tabu. De um lado temos a igreja e os conservadores na defesa à vida (Feto/bebê) e do outro encontramos as ONG’s e os formadores de opinião mais voltados para os direitos da mulher. De qual lado está a razão?

Para uma questão tão complexa como esta creio que não há uma resposta que satisfaça a Gregos e Troianos. Vivemos numa democracia e num país em que as leis são regidas por um estado laico. Questões tão complexas como esta são pautadas muitas vezes não pela razão e sim pela emoção e pela religiosidade. É fato que a mulher tem direitos sobre seu corpo, mas é fato também que existe outro ser a ser considerado, o futuro bebê, sim futuro bebê, pois, ainda é um feto.

Os motivos das pessoas e entidades que estão empenhadas na defesa do feto/bebê são muitos. A igreja, em especial a igreja católica, argumenta que não se deve tirar a vida de nenhum ser humano, mesmo que seja este um feto, qualificando tal ato de crime, crime contra a vida e, portanto, punível tanto na esfera religiosa quanto na esfera da lei. Os conservadores por razões óbvias são totalmente contra o aborto. Aliás, os conservadores se pautam em tudo nas doutrinas religiosas, sejam elas cristãs, muçulmanas, judaicas e outras tantas.

Do lado de quem defende o aborto está o argumento de que a mulher tem direito sobre o seu próprio corpo. Argumento até certo ponto plausível, visto que estamos em um estado laico e pautado pela democracia e se pensarmos assim a mulher pode perfeitamente usufruir do seu direito de ir e vir, se é que cabe tal paralelo. Além do direito sobre o próprio corpo a preocupação maior é com a saúde da mulher. Saúde que se encontra em risco a partir do momento que uma mulher se utiliza de métodos não muito convencionais para praticar o aborto.

Estima-se que todos os anos são realizados mais de um milhão de abortos no Brasil. Vocês leram bem, é isso mesmo, mais de um milhão de abortos no Brasil! O mais alarmante é que a maioria dos abortos é realizada na clandestinidade sem acompanhamento médico e sem as mínimas condições de higiene. Os números assustam algo em torne de 1.200.000 abortos clandestinos realizados fora de clínicas. Muitas mulheres morrem durante as “cirurgias”, mulheres essas que tem na sua maioria meninas, menores, garotas de 15, 16 e 17 anos de idade. Agora analisem bem, dessas que realizam o aborto clandestino a maioria absoluta é de meninas e mulheres das camadas mais baixas da sociedade.

Você lendo este texto pode se perguntar, porque não usam os métodos anticoncepcionais? Respondo com outra pergunta, você acha que a informação atinge todas as camadas sociais brasileiras por igual?

Com quem está a razão eu não sei, mas sei de uma coisa, o estado deve entrar de cabeça e o povo tem de ser esclarecido sobre o tema, pois, se continuar assim as coisas ficarão cada vez piores para as camadas menos favorecidas da sociedade. Temos de pensar muito a respeito. O aborto tornou-se uma questão de saúde pública e quando a saúde da população está em jogo é dever do estado entrar em ação e saná-la.

Um comentário:

  1. esta é uma questão de foro íntimo. O Estado, sendo laico deveria descriminalizar o aborto já que responde pela Saúde Pública. O que não impede de forma alguma, que religiões e familias eduquem seus fiéis e familiares de acordo com os valores que pregam.
    Há perguntas a serem respondidas: se o crime do aborto é perdoado pela Igreja, por que não o seria pelo Estado? Descriminar o aborto aumentaria o número de ocorrências? Creio que não, pois mulher alguma se sujeita ao aborto, ação altamente traumatizante que deve marcar suas vidas, se não for por alguma premência além de sua vontade.

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